Candy Valley

Vale do doce e das inovações

Startups ganham cada vez mais espaço no mercado pelotense, gerando empregos e ganhando visibilidade nacional

Jô Folha -

Novas caras aparecem cada vez mais, como os novos empreendedores de Pelotas. As startups se tornaram um nicho importante da economia do município e seu crescimento põe a cidade como um dos centros econômicos favoráveis a este tipo de negócio. Estimulados por diversos fatores, como o polo educacional que o município se tornou, com múltiplas opções de graduação nas universidades, dois campi do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), duas incubadoras e muitas mentes criativas são cada vez mais as áreas de atuação de empresas que ganham espaço até nacionalmente, mas mantêm raízes firmes por aqui.

O Diário Popular conversou com pessoas ligadas a sete startups que surgiram em Pelotas nos últimos anos para saber os motivos de a cidade ter se tornado este centro, que vem sendo chamado de "Candy Valley", em referência a outros diversos vales tecnológicos pelo mundo e à tradição doceira daqui. "Esse ecossistema é o resultado de várias pequenas ações que foram sendo feitas", define o presidente da Donamaid, Luiz Gilberto Camargo. Para ele, o novo formato de vestibulares a partir do Enem trouxe mentes criativas de diversas regiões do país para cá. Somam-se a isso os eventos voltados às atividades criativas, que inspiram a prática das ideias.

Ações efetivas de órgãos como o Sebrae e das universidades também ajudaram a fomentar essa vontade, segundo Glauco Munsberg, sócio-fundador da Indeorum. Na sua visão, problemas externos, como a crise econômica que assola o país, também acabaram estimulando empreendedores a tentar criar alternativas, pelas dificuldades em grandes empresas.

Ambiente favorável
Ambientalmente, a criação do Parque Tecnológico, casa da maioria das empresas, também serviu como apoio. "É um espaço que ajuda a reter a gente aqui", defende Munsberg. Ele define Pelotas como o celeiro criativo do Estado e, mesmo com sua empresa fazendo negócios com o país inteiro, a raiz firmada aqui é forte. Desde a coletividade e conectividade a partir deste espaço, até as facilidades de morar em uma cidade de porte menor, mas também com menos transtornos se comparada aos grandes centros.

A qualidade de vida de ter tudo perto e em uma comunidade mais tranquila é um dos fatores citados por Aníbal Larangeira, controler da Doutor Multas. Os bons salários pagos e a disponibilidade de empresas variadas também são atrativos para manter os empreendedores em Pelotas. O cientista de dados da Elixir, Marco Birck, veio de Concórdia (SC) apenas para estudar. Embora ainda nutra sonhos de morar em outros lugares, garante que Pelotas sempre estará presente. "Hoje eu criei uma raiz aqui. É um ambiente fértil de inovação", defende, dizendo que os potenciais desse ecossistema são infinitos.

Daqui para o mundo
A Donamaid atua em 11 cidades e, mesmo partindo de Pelotas, apenas 30% dos cadastros são daqui. Assim como ela, o Fácil Consulta já atua com nove mil cadastros em diversos locais e a Melhor Envio, mesmo fixada na cidade, tem 50% dos clientes em São Paulo. Os empreendedores entrevistados dizem que em algum momento alguém perguntou quando iriam se mudar para outro grande centro. Além disso, é comum também que a população pelotense sequer conheça as empresas daqui. Karine Cunha, gerente de sucesso do cliente na Melhor Envio, diz que as pessoas tendem a ficar surpresas quando descobrem que a empresa é de uma cidade de porte menor. A internet, porém, tornou possível a conexão com os clientes de todos os lugares, sem tanta necessidade de proximidade física.

E pode melhorar…
Há, porém, grandes fatores que podem estimular esse crescimento ainda mais. Um dos principais citados por eles é o acesso ao município. Pelas condições precárias da BR-116 e por ter pouca disponibilidade de voos no Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto, as distâncias físicas tornam-se maiores. "Qualquer viagem é demorada e cansativa", lamenta Bruno Zanchet, diretor de operações da O Agro. Ao contrário dos outros, ele pensa em talvez ir para outros centros, justamente por sua necessidade de ter mais proximidade física dos clientes.

O desenvolvimento também é mais lento, se comparado a outros centros, no ponto de vista de Zanchet, pela falta de um catalizador que sirva de grande case de sucesso para outras empresas. Já Munsberg, da Indeorum, defende que as universidades explorem melhor o lado do empreendedor, mostrando isso como uma alternativa para os estudantes, indo além de ser funcionários ou seguir vida acadêmica. "A gente está fazendo aqui em Pelotas o que se espera dos grandes centros", defende, e, por isso, apoia a melhor exploração dessa mentalidade.

A mudança da mentalidade das empresas mais tradicionais e da administração pública também são cobradas. Uma visão menos conservadora, com mais investimentos, pois a maioria ainda vem de fora. Os raros contratos de serviços públicos com essas empresas e dificuldades para obter isenções iniciais foram citadas também. Uma mudança cultural, com um esforço coordenado para todos crescerem juntos.

Conheça algumas das novas caras do Candy Valley
Donamaid - Atua há dois anos sendo uma plataforma para contratação de profissionais da área da limpeza.

Doutor Multas - Atua há três anos ajudando motoristas com questões ligadas à legislação no trânsito.

Fácil Consulta - Atua há dois anos sendo um marketplace para procurar consultas médicas, botando o cliente em contato com o consultório com preços mais acessíveis.

Elixir - Atua há nove meses como uma empresa de inteligência artificial, que aplica dados a negócios resolvendo problemas em áreas como a automação.

Indeorum - Atua há três anos com datascience voltado à pós-graduação, pesquisa e área da saúde.

Melhor Envio - Há quatro anos no mercado, é uma plataforma de logística que atende o e-commerce.

O Agro - Há seis anos e meio, atua utilizando softwares voltados ao agronegócio em áreas como gestão de informação, controle de qualidade e produtividade e e rastreabilidade.

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